domingo, 25 de julho de 2010

Cheiro de perfume barato

Ela era tão linda, seus olhos avassaladores, o seu corpo era sinuoso, passava diversas vezes em minha porta, parecia que queria me provocar. Aquele cheiro de perfume barato penetrava profundamente em meu corpo, passava por meus pulmões e inebriava minha cabeça.
Não aguentava mais aquele mundo de futilidade, precisava daquele frescor juvenil. Preocupações com minha faculdade, que eu não dô a mínima, mas que meus pais faziam questão de ver aquele diploma de Medicina pendurado ao lado dos seus, o retrato de uma família perfeita.
Naquele momento eu não consegui me concentrar, as conversas despercebidamente soavam como se fosse um barulho indecifrável, os gestos das pessoas daquela festa eram previsíveis. Somente uma palavra me interessava: Conceição. Saí daquele lugar ignorando todo aquele protocolo, as pessoas começaram a me olhar como se fosse um corpo estranho atrapalhando aquela encenação.
Peguei meu carro e sai desesperado, procurando alguma coisa que me anestesiasse e fizesse esquecer tudo aquilo. Seguia enfurecido cortando todos os caminhos, desafiando a sorte. Não sabia onde estava, havia apenas velhos sobrados e um pequeno bar, decidi parar. Entrei no pequeno bar que na primeira vista parecia um simples boteco, mas, ao entrar vi que o lugar era um grande labirinto que ocupava a maioria dos sobrados. Entrei mais profundamente, sempre seguido de olhos que me observavam discretamente, subi uma das escadas, sentei em uma das mesas. A fumaça de cigarros estava encobrindo as pessoas com uma suave névoa, se ouvia gargalhadas e gritos, as mulheres exibiam o seu corpo sem nenhum pudor. Uma moça se aproximou de mim, quando ela chegou mais perto, não pude acreditar quando vi Conceição, seu resto estava totalmente transfigurado, não havia nada dela por trás daquela pesada maquiagem, só uma coisa continuava a mesma, o cheiro de perfume barato. Seus olhos ao me ver se encheram de lágrimas, não tive tempo de dizer uma sequer palavra, outra garota chegou e a expulsou da mesa dizendo que deixasse os clientes para as outras. Estava atônito,  aquela menina havia se transformado em uma caricartura de mulher.

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